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O que Bento XVI pensava sobre a vida após a morte

Há muito tempo ele se preparava para a morte, como ele mesmo disse no livro “Bento XVI: Últimas Conversas”.

Redação - Goiânia, GO

Bento XVI sendo sepultado no Vaticano

Bento XVI e a questão da vida após a morte

Imagem: Reprodução/internet

O Papa Emérito Bento XVI ingressou na Casa do Pai no dia 31 de dezembro de 2022. Há muito tempo ele se preparava para a morte, como ele mesmo disse no livro “Bento XVI: Últimas Conversas”. A obra é um resumo das entrevistas concedidas entre 2012 e 2016 ao seu amigo Peter Seewald, um jornalista alemão. 

No primeiro capítulo, Peter Seewald pergunta ao Papa Emérito sobre sua vida monástica “no recinto de Pedro” e, em particular, sobre suas atividades diárias. Ele aborda notavelmente a paixão de Bento XVI por escrever e pregar. Então ele lhe pergunta: “Até mesmo um Papa Emérito tem medo da morte? Eis a resposta de Bento XVI: 

“Até certo ponto, sim. Primeiro, há o medo de ser um fardo para os outros devido a um longo período de incapacidade. Para mim isso seria muito triste. É algo que meu pai sempre temeu, mas foi poupado dessa provação. Então, embora eu acredite com confiança que Deus não me rejeitará, quanto mais nos aproximamos Dele, mais fortemente sentimos tudo o que não fizemos bem. De onde vem o peso da culpa que te oprime, mesmo que a confiança básica esteja sempre presente, obviamente.”

Quando Peter Seewald lhe pergunta o que dirá ao Senhor quando estiver face a face com Ele, Ratzinger responde: “Pedirei a ele que seja indulgente com minha miséria.”

Bento XVI e a questão da vida após a morte

A resposta de Bento XVI sobre a vida após a morte é, particularmente, instrutiva. Ele é um dos maiores teólogos dos séculos 20 e 21 e dedicou toda a sua vida a contemplar e explorar o mistério de Deus. À pergunta: “o que o senhor espera da vida eterna?”, o Papa Emérito distingue dois níveis:

“Antes de tudo, o nível mais teológico”, disse. Depois, ele cita as palavras de Santo Agostinho que são para ele “um grande conforto e um grande pensamento”.

Ao comentar o Salmo 104 (“Recorrei ao Senhor e ao seu poder, procurai continuamente sua face”), ele diz: “Este ‘continuamente’ vale para a eternidade. Deus é tão grande que nunca chegamos a conhecê-lo. É sempre novo. É um movimento perpétuo e infinito de novas descobertas e novas alegrias.” 

O que é a vida eterna para Bento XVI?

Em sua encíclica Spe salvi (2007), Bento XVI respondeu com precisão à pergunta, como um “teólogo de joelhos” diante das questões mais íntimas de todos, mas com profunda humanidade. Para ele, a vida eterna é um desejo de vida escapando da morte, sem saber bem “a que nos sentimos impelidos”:

“A única possibilidade que temos é procurar sair, com o pensamento, da temporalidade de que somos prisioneiros e, de alguma forma, conjecturar que a eternidade não seja uma sucessão contínua de dias do calendário, mas algo parecido com o instante repleto de satisfação, onde a totalidade nos abraça e nós abraçamos a totalidade. Seria o instante de mergulhar no oceano do amor infinito, no qual o tempo – o antes e o depois – já não existe. Podemos somente procurar pensar que este instante é a vida em sentido pleno, um incessante mergulhar na vastidão do ser, ao mesmo tempo que ficamos simplesmente inundados pela alegria.”

A dimensão humana

A abordagem familiar e amigável de Bento XVI sobre a vida após a morte também tem um significado teológico para Bento XVI , porque para ele a bem-aventurança eterna não pode deixar de ter um “caráter coletivo”. In Spe Salvi, ele retoma o ensinamento dos Padres da Igreja, atualizado pelo Padre de Lubac, para mostrar que “a salvação sempre foi considerada como uma realidade comunitária” (n. 14). No Céu, a redenção restaura a unidade, em uma vida feliz compartilhada entre todos. 

Devemos nos preparar para a morte?

Resta a questão crucial da própria morte. Como se preparar para a última passagem? Para Bento XVI, o caminho pessoal de preparação para a passagem da vida à morte e da morte à vida integra sempre a sua dimensão comunitária:

“Acho que temos de nos preparar, responde. Não quero dizer que existam atos precisos a serem realizados, mas que você deve viver dentro de si sabendo que terá que passar por um exame final diante de Deus. Que sairemos deste mundo e nos encontraremos diante Dele, e diante dos santos, diante dos amigos e dos que não são amigos. Que devemos aceitar a finitude desta vida, admitir que nos aproximamos do momento em que nos apresentaremos diante da face de Deus.” 

“Como o senhor faz isso?”, pergunta o jornalista. Bento XVI responde: “Simpleasmente através da meditação. Pensando repetidamente que o fim não está longe. Tentando me preparar para isso e sobretudo me manter presente. O importante (…) é que eu viva na consciência de que toda a vida é a aproximação de um encontro.”

 

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