Construtora condenada por trabalho escravo recebeu R$ 3,4 milhões do Exército e da FAB
Apesar da condenação por trabalho escravo, o TCU entendeu que não há irregularidade na continuidade da prestação de serviços pela empresa
Da Redação - Goiânia, GO

De acordo com o Portal da Transparência, a empresa recebeu cerca de R$ 2,9 milhões apenas do Comando da Força Aérea Brasileira
Imagem: Reprodução/internet
A empresa Shox do Brasil Construções Ltda. foi condenada, em janeiro de 2022, por manter funcionários em condição análoga à de escravo. A sentença, porém, não impediu que a firma seguisse recebendo repasses da União. Desde o despacho judicial, a construtora embolsou quase R$ 3,6 milhões por serviços prestados a órgãos do governo.
De acordo com o Portal da Transparência, a empresa recebeu cerca de R$ 2,9 milhões apenas do Comando da Força Aérea Brasileira (FAB) desde 26 de janeiro de 2022, data da sentença emitida pela Justiça do Trabalho. Mais R$ 551 mil foram repassados pelo Comando do Exército, enquanto a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) pagou R$ 119 mil.
Os contratos firmados com os órgãos são para serviços de pavimentação asfáltica (Codevasf) e de realização de uma obra no Quartel-General de Brasília. No caso da FAB, a negociação foi para a construção de hangar de manutenção do avião da FAB KC-390.
Condenação por trabalho escravo
A 2ª Vara do Trabalho de Anápolis (GO) determinou que a Shox do Brasil deveria pagar R$ 500 mil a um fundo e indenizar sete funcionários migrantes encontrados na cidade Goiânia em situação análoga à escravidão. Os trabalhadores ficavam alojados em uma casa suja, além de passarem fome e sede, segundo o processo.
A empresa Shox do Brasil Construções Ltda., agora SX Empreendimentos Ltda., recorreu da decisão e tenta levar o processo para julgamento no Tribunal Superior do Trabalho (TST).
Contratos ativos
Em outubro de 2022, a empresa passou a integrar a “lista suja” do trabalho escravo, divulgada pelo Ministério do Trabalho e Previdência.
O contrato com a Força Aérea para a construção do hangar de manutenção do avião da FAB KC-390 segue ativo. De acordo com o Portal da Transparência, a empresa ainda tem outros dois contratos em vigor, um com a FAB e outro com o Comando do Exército.
Por meio de nota, a Força Aérea Brasileira afirmou que, dos valores empenhados, foram pagos à firma exclusivamente os montantes referentes aos serviços executados, “observando-se o previsto na legislação e nos documentos que instruíram o processo licitatório”.
“O Comando da Aeronáutica acompanha os desdobramentos do caso envolvendo a empresa citada. Nas decisões judiciais proferidas até o momento, não houve nenhum reflexo direto na execução do contrato firmado com as Organizações Militares da FAB, tampouco determinação de suspensão ou rescisão contratual”, afirma.
De acordo com a Codevasf, os contratos firmados “são precedidos de processo licitatório e observam integralmente as disposições legais e as decisões judiciais aplicáveis”. “Em processos de pagamento, as empresas contratadas devem necessariamente reunir todas as condições de habilitação e regularidade estabelecidas pela lei”, diz em nota.
Tentativa de suspensão
A continuidade do vínculo entre a empresa e a União foi contestada pelo então deputado federal e atual secretário de assuntos legislativos no Ministério da Justiça e Segurança Pública, Elias Vaz (PSB-GO). Em 3 de fevereiro de 2022, o parlamentar entrou com representação no Tribunal de Contas da União (TCU) para romper os contratos e impedir o recebimento de novos recursos.
“Se a Shox do Brasil Construções Ltda. continuar prestando serviços ao Estado Brasileiro, os gestores serão cúmplices desse crime contra a humanidade. Aliás, teremos uma prova clara de que este governo compactua com a escravidão e outras condutas nefastas”, afirmou Vaz no pedido.
A Lei de Licitações estabelece que não podem disputar licitação ou participar da execução de contratos empresas que, nos cinco anos anteriores à divulgação do edital, tenham sido condenadas judicialmente por submeter trabalhadores a condição análoga à de escravo.
No entanto, em sessão de 10 de maio de 2022, os ministros do TCU decidiram arquivar o pedido para considerar a empresa inidônia porque o processo ainda não transitou em julgado, ou seja, ainda há possibilidade de recurso.
Decisão pode ser revista
O advogado e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) Jean Menezes de Aguiar destaca que a Lei 14.133, de 2021, que trata das licitações, fala em 22 princípios que a administração pública deve levar em conta para contratar uma empresa.
“Muito dificilmente qualquer empresa que tenha um problema ligado à ética e à moralidade, publicidade e eficiência vai conseguir entrar em uma licitação com o poder público”, destaca. Jean, porém, observa que a regra esbarra na necessidade de a condenação ter esgotadas as possibilidades de recurso.
O docente destaca, porém, que, apesar de a questão ter passado pela avaliação do Tribunal de Contas da União, a continuidade do vínculo entre a empresa e a União pode ser questionada na Justiça. “No Judiciário poderá haver um impedimento em razão do vetor da moralidade”, observa.
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