PF identifica dez generais no plano golpista para matar Lula, Alckmin e Moraes
Além dos generais, 16 coronéis, um almirante e outras pessoas são investigadas
Redação - Goiânia, GO
PF identifica dez generais no plano golpista para matar Lula, Alckmin e Moraes
Imagem: Foto: Agência Brasil
A Operação Contragolpe, deflagrada pela PF nessa terça-feira, 19, não apenas resultou na prisão de militares envolvidos no plano para matar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, mas também revelou uma extensa rede no alto escalão das Forças Armadas, que trocavam informações sobre o golpe e/ou eram cotados para “pacificar” o País após a ruptura instaurada.
A reportagem pediu via Comunicação do Exército e da Marinha manifestação dos militares citados no inquérito da PF, mas não obteve resposta. O espaço está aberto. Em nota divulgada no dia da operação, o Exército afirmou que a Força “não se manifesta sobre processos em curso, conduzidos por outros órgãos, procedimento que tem pautado a relação de respeito do Exército Brasileiro com as demais instituições da República”. As defesas dos presos na operação ainda não se manifestaram.
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O alvo principal da ofensiva foi um general: Mário Fernandes, ex-secretário-executivo do governo Bolsonaro. A partir de seu celular, a Polícia Federal encontrou conversas em que ele e colegas de farda reclamavam sobre o Alto Comando do Exército, dizendo que ele “tinha que acabar” e pregando: “Quatro linhas da Constituição é o cacete”. Os diálogos são efusivos e mostram a insatisfação de alguns militares com o fato de a cúpula do Exército não ter embarcado no suposto plano para manter o governo Jair Bolsonaro após a derrota nas urnas.
“Kid Preto, cinco não querem, três querem muito e os outros, zona de conforto. É isso. Infelizmente. E a lição que a gente deu para a esquerda é que o alto comando ele tem que acabar. Se cria um general de cinco estrelas ou se promove, se mexe na promoção dos generais e só se promove nos próximos oito anos só um general quatro estrelas. Como é nos outros exércitos. Aí acaba essa palhaçada de unanimidade, acaba essa porra. Foi essa aula que a gente deu para eles, infelizmente”, escreveu um colega de Mário.
Com Fernandes a PF encontrou documentos cruciais para a investigação: o plano ‘punhal verde amarelo’, que previa o envenenamento de Lula e o assassinato de Moraes a bomba; e uma minuta de gabinete de crise que “pacificaria” o País após a ruptura, sob a chefia de aliados de primeira hora de Bolsonaro: os generais Augusto Heleno e Walter Braga Netto.
Com o major Rafael de Oliveira, outro alvo da operação de terça-feira, foram encontrados um arquivo e mensagens relativas à operação ‘Copa 2022′, que tratava da prisão e execução de Moraes. Essa operação chegou a ser efetivamente iniciada, mas acabou abortada de última hora. Com o tenente-coronel Hélio Ferreira Lima, a PF encontrou a planilha do golpe, com mais 200 linhas descrevendo o passo a passo para a ruptura democrática.
Os nomes dos militares envolvidos direta ou indiretamente na trama golpista são dispostos ao longo da representação da PF dentro de três vertentes principais: os que dialogavam abertamente sobre o golpe, inclusive reclamando da demora do mesmo; os elencados como integrantes do hipotético Gabinete Institucional de Gestão da Crise que seria criado após a ruptura; e os integrantes do Núcleo de Oficiais de Alta Patente com Influência.
‘Vai ser guerra civil’
As mensagens que Mário Fernandes trocou com os colegas de farda ganharam amplo destaque na representação da Operação Contragolpe em razão dos detalhes dos diálogos.
Uma das conversas foi com o coronel Roberto Criscuoli, que, após o segundo turno, escreveu: “Mario, eu tava até conversando agora com o pessoal aqui, cara. Se nós não tomarmos a rédea agora, depois eu acho que vai ser pior. Na realidade vai ser guerra civil agora ou guerra civil depois. Só que a guerra civil agora tem uma justificativa, o povo tá na rua, nós temos aquele apoio maciço. Daqui a pouco nós vamos entrar numa guerra civil, porque daqui a alguns meses esse cara vai destruir o Exército, vai destruir tudo”. O coronel negou que tenha participado de planos para assassinar autoridades.
“Então eu acho que essa decisão tem que ser tomada urgente, cara. E o presidente não pode pagar pra ver também, cara. Ele vai destruir o nosso País, cara. Democrata é o cacete. Não tem que ser mais democrata mais agora. Ah, não vou sair das quatro linhas. Acabou o jogo, pô. Não tem mais quatro linhas. O povo na rua tá pedindo, pelo amor de Deus. Vai dar uma guerra civil? Vai dar. Eu tenho certeza que vai dar. Porque os vermelhos vão vir feroz. Mas nós estamos esperando o quê? Dando tempo pra eles se organizarem melhor? Pra guerra ser pior? Irmão, vamos agora. Fala com o 01 aí, cara”, seguiu.
Outro interlocutor frequente do general – apontado pelo tenente-coronel Mauro Cid (ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e delator) como um dos mais radicais do govenro – é Reginaldo Vieira de Abreu. Foi com ele que Mário reclamou sobre o Alto Comando do Exército. E então Vieira de Abreu disse: ”O senhor me desculpe a expressão, mas quatro linhas é o caralho. Quatro linhas da Constituição é o cacete. Nós estamos em guerra, eles estão vencendo, está quase acabando e eles não deram um tiro por incompetência nossa. Incompetência nossa, é isso”.
Reginaldo Vieira de Abreu também pediu uma reunião de Bolsonaro “só com a rataria” e sem a presença de pessoas “acima da linha ética”. Ele não foi encontrado para se manifestar.
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Os diálogos mostram ainda o acesso que Mário tinha a pessoas próximas de Bolsonaro, como o Capitão Sergio Rocha Cordeiro, que era assessor da Presidência da República, e o coronel Marcelo Câmara, também aliado de primeira hora do ex-chefe do Executivo, figuras que foram alvos de operações anteriores da PF. Em uma das mensagens, Mário enviou supostas provas que poderiam influenciar em decisões estratégicas, afirmou ter falado com o ministro da Justiça Anderson Torres e “expôs a preocupação de muita gente ‘jogar a toalha’, ou seja, desistir de seguir adiante com os intentos golpistas”. A PF diz que, aparentemente, a mensagem ficou sem resposta.
Já com Câmara, que era chamado de Caveira por Mário, o general tratou do levantamento de informações para atacar as eleições e a urna eletrônica. “”Força, Caveira! Ouça esses dois áudios aí. Ah, porra, será que isso já chegou para vocês? Ah, para o presidente? Porra, aquela proposta dele só falar no dia 16 que é… tem amparo legal. Ouça esses dois áudios aí.”, declarou, no início de dezembro.
Cid também era um interlocutor de Mário. No dia em que foi realizada a reunião, com Bolsonaro e os chefes das Forças Armadas, para a apresentação da minuta do golpe que circulava entre bolsonaristas, o militar enviou o seguinte áudio ao hoje delator: “Força, Cid. Cid, acho que você está tendo uma reunião importante aí agora no Alvorada. Pô, mostra esse vídeo pro comandante, cara. Se possível, transmite durante a reunião, porra. Isso é história. E a história é marcada por momentos como esse que nós estamos vivendo agora. Força.”
Em outro áudio, o general relatou a Cid ter conversado pessoalmente com Bolsonaro: “Durante a conversa que eu tive com o presidente, ele citou que o dia 12, pela diplomação do vagabundo, não seria uma restrição, que isso pode, que qualquer ação nossa pode acontecer até 31 de dezembro e tudo. Mas, porra, aí na hora eu disse, pô presidente, mas o quanto antes, a gente já perdeu tantas oportunidades”. Cid respondeu que conversaria com o então presidente.
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