Mulher que denunciou ter sido sequestrada e torturada por seis PMs é incluída no programa de proteção à testemunha
Vítima relatou ao Ministério Público, em denúncia, que os militares procuravam um carregamento de drogas e R$ 50 mil em dinheiro.
Da Redação - Goiânia, GO
Câmera de segurança flagrou PMs em posto de gasolina antes de levar mulher para tortura em matagal de Goiânia, Goiás
Imagem: Reprodução/Processo judicial
A mulher que denunciou ter sido sequestrada e torturada por seis policiais militares em Goiânia foi incluída no programa de proteção à testemunha do governo federal, no fim de semana. Os militares estão presos em um batalhão da polícia. A doméstica, de 28 anos, disse que sofreu uma sessão de tortura no meio de um matagal no Bairro Boa Vista, em Goiânia, na noite de 7 de janeiro deste ano.
A vítima procurou o Ministério Público e a Corregedoria da Polícia Militar para fazer denúncia. Posteriomente, a Justiça Militar aceitou a denúnicia e os PMs viraram réus pelos crimes de tortura, extorsão, sequestro, violação de domicílio, falsidade ideológica e além de organização criminosa armada. Eles devem ser ouvidos pela Justiça Militar nos próximos dias.
O advogado dos seis policiais envolvidos no caso de tortura disse que não vai se manifestar no momento e que todas as informações serão prestadas nos autos do processo.
Em nota, a Polícia Militar informou que a corregedoria instaurou um processo administrativo disciplinar e um inquérito policial militar, que foi concluído e enviado à Justiça, e que não compactua com nenhum tipo de desvio de conduta.
Os policiais militares suspeitos são, segundo o Ministério Público:
Soldado Guilherme Carrijo Alvarenga,
Soldado Lúcio Monsef Ferrera,
Cabo Gabriel Vinícius Lourenço Freitas,
3º sargento Márcio Junqueira da Silva,
Cabo Celimar dos Santos Ferreira,
e o soldado Iago Henrique Costa Silva.
O Ministério Público conseguiu o relatório do GPS da viatura da Polícia Militar. O documento mostra que entre às 21:12h e 21:30h, a viatura esteve em uma região afastada, ao final da Avenida Goiás Norte, situada no Bairro Boa Vista.
No local, foi identificada uma clareira em região de mata fechada, onde inclusive foram localizados quatro galões, que provavelmente foram utilizados para efetuar os afogamentos da vítima, segundo o MP.
Tortura
A suposta sessão de tortura foi à noite, no meio de uma mata, no Bairro Boa Vista. Primeiro, a mulher foi obrigada a tirar a roupa.
"Quando eu tirei a roupa, um dos PMs fardado me deu uma paulada assim e mais uma. Acho que foram umas duas pauladas que eu caí", relembra.
A vítima conta que foi espancada.
"Um chegava dava um murro na minha cara, outro dava um tapa, aí não tava bom, aí um vinha de lá pra cá e dava uma bicuda".
A doméstica relatou que viveu momentos angustiantes.
"Eu só pedia para não morrer, né, mas teve um devido momento que eu pedi, sabe, eu estava sentindo tanta dor, que eu já não estava aguentando mais".
O momento de maior aflição foi durante a sessão de afogamentos.
"Jogavam a água do galão no meu rosto, com um pano amarrando, né, e um segurava com bastante força a minha cabeça para eu não movimentar ela e os demais seguravam as minhas mãos e os meus pés. E para eu acordar, quando eu desmaiava, sempre vinha um e me dava um chute na cara, um choque no bico do seio", lamenta a vítima.
A mulher foi para uma unidade de saúde e depois ao Instituto Médico Legal (IML), onde passou por um exame de corpo de delito. Os peritos concluíram que os machucados possivelmente eram decorrentes de tortura.
Abordagem
As cenas de terror começaram por volta das 20h. A vítima seguia de carro quando dois policiais à paisana, numa viatura descaracterizada, fizeram a abordagem. No carro, além da vítima, estavam outras quatro pessoas, incluindo um bebê.
"Já meteu pistola na minha cara e falou para mim descer, que era polícia. A gente desceu todo mundo do carro, deixou o carro no meio da rua, todo mundo com mão na cabeça, no paredão", relata a vítima.
Em segundos, chegaram mais quatro PMs. Segundo a denúncia, os policiais estavam atrás de oito quilos de crack e R$ 50 mil.
"E aí eles perguntaram para todo mundo o nome, e quando chegou em mim, eu falei meu nome e ele perguntou de um quantidade de crack e de um valor alto em dinheiro, sabe, e eu falei que não sabia, que não tinha envolvimento com tráfico, que eu trabalhava", ressaltou a mulher.
Quando a suposta tortura acabou, a mulher estava com hematomas pelo corpo e foi liberada, mas os policias decidiram prender o marido dela como forma de intimidação.
Na Central de Flagrantes, os policiais militares registraram que ele estava com 26 gramas de cocaína, mas as investigações apontaram que o flagrante foi forjado, por isso, na audiência de custódia, o homem, que já tem passagens, foi liberado.
Investigação
Pedro Henrique Guimarães Costa é um dos promotores que investigou os crimes. Ele mesmo foi a cada um dos locais onde aconteceram a abordagem e a tortura. O que se verificou, segundo o promotor, foi uma atividade que em nada se equipara a uma atividade policial.
"O que nós verificamos foi uma série de crimes, todos encadeados e que se deram com extrema gravidade. A conduta criminosa dos policiais, que nós entendemos que foi criminosa, ela em nenhum momento encontra-se justificada minimamente em qualquer tipo de norma, qualquer tipo de procedimento da Polícia Militar, tudo isso feita de forma própria por estes policiais", destacou o promotor.
Após o trauma e agora vivendo no programa de proteção de testemunha, a doméstica espera que os policiais sejam punidos.
"Eu quero que eles paguem sim, fechado, ser presos, mostrar para eles que não é assim, que eu sou uma mulher, que realmente eles fizeram errado. Espero que a Justiça tire eles da corporação, porque assim é bem difícil para mim", lamentou a mulher.
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