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Da galinha ao chocolate: como surgiu o ovo de Páscoa? Conheça a história

Especialista explica que a tradição alimentar do feriado se transformou ao longo do tempo

Redação - Goiânia, GO

Da galinha ao chocolate: como surgiu o ovo de Páscoa? Conheça a história

Da galinha ao chocolate: como surgiu o ovo de Páscoa?

Imagem: Foto: FreePik

Muitas tradições da Páscoa têm origem no cristianismo medieval ou até mesmo em crenças pagãs mais antigas. O ovo de Páscoa de chocolate, no entanto, é uma versão mais moderna da tradição. Ovos de galinha são consumidos na Páscoa há séculos. Eles simbolizam há muito tempo o renascimento e a renovação, tornando-os perfeitos para comemorar a história da ressurreição de Jesus, bem como a chegada da primavera.

Embora hoje em dia os ovos possam ser consumidos durante o período de jejum da Quaresma, na Idade Média eles eram proibidos, assim como carne e laticínios. Os chefs medievais frequentemente encontravam maneiras surpreendentes de contornar isso, chegando a fazer ovos falsos para substituí-los.

Na Páscoa – um período de celebração – ovos e carne, como cordeiro (também símbolo de renovação), estavam de volta à mesa. Mesmo quando os ovos eram permitidos nas refeições de jejum, eles mantinham um lugar especial na festa da Páscoa. O autor de livros de receitas do século XVII, John Murrell, recomendava “ovos com greene sawce”, um tipo de pesto feito com folhas de azedinha.

Em toda a Europa, ovos também eram doados como dízimo (uma espécie de aluguel anual) à igreja local na Sexta-feira Santa. Talvez seja daí que vem a ideia de presentear com ovos. A prática desapareceu em muitas áreas protestantes após a Reforma, mas algumas aldeias inglesas mantiveram a tradição até o século XIX.

Não se sabe exatamente quando as pessoas começaram a decorar seus ovos, mas pesquisas apontam para o século XIII, quando o rei Eduardo I dava aos seus cortesãos ovos embrulhados em folhas de ouro.

Alguns séculos depois, sabemos que pessoas em toda a Europa tingiam seus ovos de cores diferentes. Geralmente escolhiam o amarelo, usando casca de cebola, ou o vermelho, usando raízes de garança ou beterraba. Acredita-se que os ovos vermelhos simbolizam o sangue de Cristo. Um autor do século XVII sugeriu que essa prática remontava aos primeiros cristãos na Mesopotâmia, mas é difícil ter certeza.

Na Inglaterra, a forma mais popular de decoração era com pétalas, que deixavam marcas coloridas. O Museu Wordsworth, no Distrito dos Lagos, ainda possui uma coleção de ovos feitos para os filhos do poeta na década de 1870.

De ovos tingidos a ovos de chocolate

Embora tingir ovos estampados ainda seja uma atividade comum na Páscoa, hoje em dia os ovos são mais comumente associados ao chocolate. Mas quando essa mudança aconteceu? Quando o chocolate chegou à Grã-Bretanha no século XVII, era uma novidade empolgante e muito cara. Em 1669, o Conde de Sandwich pagou 227 libras esterlinas – o equivalente a cerca de 246 mil reais hoje – por uma receita de chocolate do Rei Carlos II.

Hoje, o chocolate é considerado um alimento sólido, mas naquela época era apenas uma bebida e geralmente era temperado com pimenta, seguindo as tradições asteca e maia. Para os ingleses, essa nova bebida exótica era diferente de tudo o que já haviam experimentado. Um autor a chamou de “Néctar Americano”: uma bebida para os deuses.

O chocolate logo se tornou uma bebida da moda para a aristocracia, frequentemente oferecido como presente devido ao seu alto status, uma tradição que ainda hoje se mantém. Também era apreciado nos cafés recém-inaugurados em Londres. O café e o chá também tinham acabado de ser introduzidos na Inglaterra, e as três bebidas estavam mudando rapidamente a forma como os britânicos interagiam socialmente.

Teólogos católicos associaram o chocolate à Páscoa nessa época, mas temiam que beber chocolate fosse contra as práticas de jejum durante a Quaresma. Após acalorado debate, concordou-se que chocolate feito com água poderia ser aceitável durante os jejuns. Pelo menos na Páscoa – um momento de festa e celebração – o chocolate era aceitável.

O chocolate continuou caro até o século XIX, quando a Fry’s (hoje parte da Cadbury) produziu as primeiras barras de chocolate sólido em 1847, revolucionando o comércio de chocolate.

Para os vitorianos, o chocolate era muito mais acessível, mas ainda era uma espécie de indulgência. Trinta anos depois, em 1873, a Fry’s desenvolveu o primeiro ovo de Páscoa de chocolate como um mimo de luxo, unindo as duas tradições de presentear.

Mesmo no início do século XX, esses ovos de chocolate eram vistos como um presente especial, e muitas pessoas nunca os comiam. Uma mulher no País de Gales guardou um ovo de 1951 por 70 anos, e um museu em Torquay comprou um ovo que estava guardado desde 1924.

Foi somente nas décadas de 1960 e 1970 que os supermercados começaram a oferecer ovos de chocolate a um preço mais barato, na esperança de lucrar com a tradição da Páscoa. Com a crescente preocupação com a produção de chocolate a longo prazo e a escassez de ovos provocada pela gripe aviária, as Páscoas do futuro podem ser um pouco diferentes. Mas se há uma coisa que os ovos de Páscoa podem nos mostrar é a adaptabilidade da tradição.

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